Universal Basic Income

Perestroika
5 min readJul 5, 2017

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Disclaimer: esse texto é apenas um processamento interno que eu fiz sobre um conceito novo com que me deparei. Tentarei apresentar sem colocar qualquer tipo de juízo de valor nessas ideias. Se eu não conseguir ser tão neutra como eu gostaria: foi mal :)

A primeira vez que ouvi falar nesse conceito foi em 2015, numa palestra do Federico Pistono em Porto Alegre. E a primeira vez que ouvi falar do Pistono foi numa aula da Perestroika sobre futuro do trabalho que mencionava o livro dele: Robots Will Steal Your Job, But Thats Ok (que inclusive está disponível gratuitamente no site), onde ele fala que a automação vai atingir todas as áreas, colapsando o atual sistema econômico. Mas a boa notícia é que essa nova realidade pode ser uma oportunidade se a humanidade souber aproveitar e reformular seu atual sistema.

Eu também já tinha visto esta palestra:

Resumindo muito o assunto, ele trata a desempregabilidade com otimismo. Aqueles trabalhos extremamente mecânicos e repetitivos podem e vão ser substituídos por robôs que farão a tarefa muito mais rápido, 24/7 e (o melhor) sem encargos trabalhistas. Isso pode soar extremamente cruel, mas o assunto é conduzido de uma forma muito boa. Não devemos brigar com a tecnologia. (Inclusive, você pode verificar a probabilidade de a sua profissão ser substituída por uma máquina nesse site). O que precisamos nos dar conta é que a tecnologia trabalha unicamente a nosso favor e Pistono tenta fazer a gente entender que, no futuro, as pessoas não terão um “emprego” e sim “ocupações”. O homem não nasceu para trabalhar. Talvez, se as máquinas fizerem todo o trabalho por nós, sobraria mais tempo para fazer as coisas que mais gostamos, como passar mais tempo com a família ou viajar. (Óbvio que aqui estou resumindo o assunto quase ao ridículo, mas esse não é o ponto principal deste texto).

Acho que os padrões que estão diante de nós tendem para um cenário futuro de colapso econômico, por conta da impossibilidade de conjugar a habilidade de trabalhar e receber uma renda para sobreviver com a crescente automação e concentração da economia. Isso leva ao que chamo de “economia dos superastros”. As chamadas “Companhias Unicórnios”, companhias jovens, fundadas há menos de 10 anos e que valem mais de um US$ 1 bilhão, empregam um número muito pequeno de pessoas, enquanto as indústrias do passado empregavam muitas. Nesse cenário, cada empregado é um superastro. A economia do futuro, assim como aconteceu com a indústria da música, do cinema, da arte em geral, será tal que uma fração muito pequena garantirá a maior parte da renda. Os processos de digitalização e de automação levam poucas companhias a dominar o mercado, em um estado de quase monopólio. E as companhias mais novas precisam empregar menos pessoas, que ganham mais do que antes. (Pistono em entrevista ao jornal Zero Hora)

E isso tem relação com o tema da palestra que eu assisti. Dessa vez, Pistono não veio falar sobre robôs. Ele veio trazer um conceito inovador e (na época) ainda bem desconhecido (apenas 1 pessoa na sala já tinha ouvido falar) que é o UBI — Universal Basic Income. Basicamente é um sistema onde absolutamente todos os cidadãos de um país recebem regularmente uma quantia em dinheiro.

E é isso.

Não existe nenhuma prova e não importa se a pessoa trabalha ou não.

É claro que automaticamente surgem milhares de perguntas nas nossas cabeças. “Como vamos pagar por isso?”, “as pessoas não vão ficar preguiçosas e parar de trabalhar?”. Bom, existem várias teorias de como isso poderia dar certo. Uma delas é tratar os cidadãos do país como uma espécie de “acionistas”, aos quais é preciso pagar dividendos todos os anos. É até engraçado pensar dessa forma. Mas Pistono trouxe uma série de dados promissores. E como espécie humana, nós já fizemos alguns experimentos:

Foi feito um experimento no Canadá (e você pode saber um pouco mais aqui.) onde os resultados mostraram que apenas 2 grupos de pessoas passaram a trabalhar menos:

  • mães que recém tiveram bebês, e ficaram mais tempo em casa cuidando das crianças
  • meninos jovens (que na verdade apenas demoraram mais para pegar trabalhos de turno integral e ficaram mais tempo na escola)

Ou seja, nada de errado nisso, certo?

Outra surpresa foi a queda nos custos com saúde. As taxas de hospitalização caíram em casos de incidentes, machucados e problemas psicológicos.

E o mais curioso é que experimentos parecidos em países como a Índia, mostraram resultados semelhantes (considerando que são países com situações econômicas e culturas bem diferentes).

Alguém na plateia perguntou se as pessoas que já têm uma boa situação financeira iriam se acostumar a viver apenas com o BI. Bom, em primeiro lugar, ninguém disse que você precisa parar de trabalhar. Mas num cenário de desempregabilidade avançada você pode acabar ficando sem outra opção. Só que nesse estágio, a automatização das indústrias reduzirá o custo das coisas e, de fato será possível viver com menos. Ok, Pistono já tem uma cultura avançada de redução do consumo (ele escolheu apenas 100 objetos pessoais para viver e está dando todo o resto de graça) e ele fala muito em como seremos “ricos” por termos mais tempo para viver a vida da forma como quisermos. As pessoas já são estressadas, deprimidas e preocupadas com empregos que elas não gostam. Tirando a preocupação de ganhar um salário, elas poderão voltar sua atenção e sua capacidade para assuntos que as interessem mais, talvez gerando outros negócios de valor ou conhecimento.

Alguém também perguntou se ele acreditava que algum dia no futuro todos iriam aceitar essas ideias que ele estava apresentando. Ele não acredita que algum dia absolutamente todas as pessoas vão concordar sobre alguma coisa. Mas ele nos fez lembrar como existem “ondas de aceitação” de ideias que estão vindo em intervalos cada vez menores. Considere o tempo que levou para as pessoas aceitarem os direitos dos negros. Depois o tempo que levou para a aceitação dos dos direitos das mulheres (há menos de 100 anos as mulheres não podiam sequer votar em vários países), depois os direitos dos homossexuais e assim por diante.

Eu também acredito que a UBI tem possibilidade de sair do campo da utopia bem mais cedo do que se imagina.

Texto de Mica Ferreira

Diretora de Whatever, [DNA Perestroika].

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Escola de atividades criativas.

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