Uma pessoa só não faz diversidade

Perestroika
3 min readSep 19, 2018

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Diversidade é uma palavra de simples definição. Substantivo feminino. Qualidade daquilo que é diverso, diferente, variado, variedade.

A diversidade, que sempre fez parte de qualquer sociedade, ganhou força política e conquistas nos tempos de agora. Vozes que sempre existiram, mas que estavam na margem, não eram ouvidas, estão traçando seu próprio caminho e fazendo circular narrativas mais plurais. De maneira independente, percursos estão sendo traçados para se chegar ao centro, para que padrões vigentes e engessados deem lugar à heterogeneidade que nos é intrínseca. Diversos artistas, a sua maneira, são exemplos dessas vozes como Linn da Quebrada, Xenia França, Emicida, Luedji Luna e a escritora Conceição Evaristo para citar alguns nomes.

Porém, ah, porém. Historicamente, a diversidade é alvo de ataques no Brasil. A vinda de imigrantes italianos para terra brasilis tinha um objetivo muito claro e específico: branquear a população brasileira que era (e ainda é) formada por pessoas negras e indígenas. Ou seja, exterminar qualquer traço fenotípico dos corpos e mentes e ajudaram a fundar esse país.

Por que queriam fazer isso? Já ouvir falar nas Teorias Raciais? Senta que lá vem história. Firmado única e exclusivamente no racismo, esses estudos exaltavam a pureza racial (leia-se branca) e a entendiam como sinônimo de higienização moral e intelectual brasileira. Por sua vez, atribuíam à miscigenação (leia-se pessoas negras) o declínio de nossa sociedade. Por isso, a elite política e intelectual da época quis branquear o Brasil. Isso não é teoria da conspiração, é fato, é história, é a nossa, é a história do Brasil. Aqui, é possível entender um pouco mais sobre como funcionou essa política pública brasileira de extermínio.

Fiz todo esse prólogo para dizer que, desde o período escravocrata e após ele, um grupo populacional estava muitos degraus acima na escada dos privilégios e que isso só aumentou, se cristalizou e se perpetuou ao longo dos anos.

A questão é que, agora, (somente agora com a crescente força e pressão dos movimentos sociais) as empresas passaram a olhar para suas próprias estruturas, para seu quadro de funcionários e perceberam que a quantidade de pessoas LGBT+, indígenas, negras e oriundas de diferentes classes econômicas é praticamente inexistente. Aos poucos (mas bem aos poucos mesmo), as organizações passaram a entender que é necessário empregar pessoas diversas. É necessário ir até elas, pensar em estratégias inclusivas de recrutamento, dar oportunidade, já que arquitetura desigual da nossa sociedade é um verdadeiro entrave para o ocupação de postos de trabalho qualificados por pessoas minorizadas.

As empresas precisam fazer o mínimo, ou seja, contratar pessoas com perfis diferentes, porque isso traz riqueza intelectual e cultural, maior aproximação com a realidade, aumento da criatividade e resolução de problemas etc. Só que não basta contratar uma pessoa de grupo minorizado, uma pessoa só não faz diversidade e é preciso pensar na pro-por-cio-na-li-da-de da realidade social que vivemos, na distribuição simétrica de oportunidades. Se apenas 20% dos seus funcionários são negros, algo não está batendo já que 54% da nossa população é negra.

Além disso, é preciso pensar no real acolhimento desses indivíduos, nas suas demandas, trajetórias, dificuldades cotidianas (racismo, lgbtfobia etc), em como isso afeta a auto-confiança desse funcionário. As organizações têm que repensar suas estruturas/práticas internas e combater de maneira ativa as desigualdades por meio de capacitação e aperfeiçoamento constante.

Diversidade é linda na televisão, né? Mas se ela é tão festejada, se realmente vivemos numa democracia racial, precisamos fazer jus a toda essa harmonia, convivermos nos mesmos espaços e termos as mesmas oportunidades. Diversidade não é para fazer bonito, não é marketing social, é fator mudança social concreta e precisa ser entendida como tal. Precisa ser colocada em prática.

  • Subversiva, criativa, sensível e do bem! Essa é a Perestroika

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Written by Perestroika

Escola de atividades criativas.

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