Teoria feminista e as divas pop
Escrevo esse texto porque toda vez que coloco numa mesma frase as palavras “divas pop” e “feminismo” já espero que venha junto uma treta. Por um lado, há quem diga que pensar nas divas como ícones feministas é um erro, algo com que concordo. Por outro, há quem projete nelas mais responsabilidade sobre práticas feministas do que nenhuma delas jamais jurou ter — e este, a meu ver, é outro erro.
O que as divas pop têm a ver com o feminismo, então? Nada e tudo. Explico.
Não faz sentido brigar por conta de uma conclusão encerrada a respeito de as divas pop serem ou não feministas. Porque é lógico que nem todas são — vale lembrar que divas pop são, antes de tudo, produtoras de cultura, e não necessariamente ativistas políticas. Também vale lembrar que analisar com lentes feministas o trabalho que elas colocam no mundo não exige que elas próprias se identifiquem ou não como feministas (ou sequer que ajam ou não como feministas, o que quer que isso signifique…).
No entanto, é imprescindível não esquecer que divas pop são mulheres. Mulheres poderosas e bem-sucedidas em uma indústria (como todas as outras…) bastante machista. E são mulheres que, independentemente de suas identificações ou não com o pensamento e prática feministas, em sua produção cultural amontoam um repertório vasto de histórias, linguagens, imagens e narrativas (sejam elas consideradas artísticas ou puro entretenimento) que são, em sua maioria absoluta, sobre mulheres.
E histórias, linguagens, imagens e narrativas feitas por mulheres, num contexto machista e excludente, e que sejam focadas nas experiências das mulheres, definitivamente têm valor feminista.
Assim, o SHOT Teoria Feminista e as Divas Pop, que acontece no dia 24 de abril na Perestroika POA, e que será ministrado por mim, não visa convencer ninguém acerca do feminismo definitivo desta ou daquela diva pop, mas sim fazer algumas leituras feministas acerca de algumas produções de algumas divas.
As divas selecionadas para este SHOT são Beyoncé, Lady Gaga e Madonna — e as três já declararam, em algum momento de suas carreiras, serem sim feministas. Ao meu ver as três também agem como tal — cada uma a seu modo, e Beyoncé de forma mais explícita. Mas, para aquém e além de suas declarações, é certo que há, no trabalho delas, um sem-fim de elementos com potencial produtivo de linguagens de empoderamento, e não apenas das mulheres, mas também da comunidade LGBTQI.
No SHOT vamos fazer, juntas, análises de três videoclipes, para identificarmos alguns destes elementos feministas utilizados na linguagem audiovisual destas artistas. O curso visa facilitar o entendimento de questões teóricas, usando videoclipes como ponto de partida — e nosso line-up para a noite será composto de Beyoncé feat. Chimamanda Ngozie Adichie, Lady Gaga feat. Laura Mulvey e Madonna feat. Kate Millet.
A poeta Alice Walker diz que “tempos difíceis requerem que dancemos furiosamente”, e a ativista política e escritora Emma Goldman diz que “se não posso dançar, não é a minha revolução”. O tema é sério, mas quem disse que seriedade não pode ser dançante? As divas vêm provando, há anos, que as duas coisas vão muito bem juntas. Vamos dançar a revolução, bater um cabelo e, no processo, conhecer um pouco mais a teoria feminista?
Espero vocês lá. Um beijo!