Oito coisas que aprendi pedindo feedback para todos@nossaempresa.com.br (Tiago Mattos)
Roubamos esse texto do Tiago, um dos sócio-fundadores da Perestroika, onde ele relata seus aprendizados ao pedir uma simples opinião pra galera. Boa, Tiaguera! :)
Em março, completo dez anos como empreendedor.
Talvez você discorde mas, particularmente, considero uma vitória — especialmente nesse nosso Brasil de economia sôfrega, impostos cabalísticos e burocracias desumanas.
Aprendi muito nessa década de barriga no balcão. Errando muito e acertando de vez em quando.
E, de tudo o que aprendi, destaco uma lição — que faz todo sentido para meu atual momento de vida.
Empreender é um exercício de melhoria constante.
Se você é empreendedor, sabe do que estou falando. Porque quando você relaxa, esquece de melhorar, e entra na zona de conforto, o mercado faz questão de lembrá-lo rapidinho.
Você nunca está pronto. E se pensa que está, é porque está mal informado.
Provavelmente ontem, ou anteontem, ou mês passado, alguém (uma programadora de quinze anos na Índia, um maker de treze no Japão, uma inteligência artificial que já pensa sozinha) lançou uma novidade que vai chacoalhar o seu mercado.
Portanto, nunca é tarde para pegar as nossas certezas, botar no lixo (orgânico — assim a gente não corre o risco de reciclá-las logo adiante) e voltar à posição de aprendiz.
Experiência ajuda, claro. Mas não garante nada. Já dizia Hipócrates: a experiência é enganadora.
Portanto, a lição número um é a mesma para todos nós: empreender é aprender.
Sempre tentei encarar minha vida de empresário dessa forma. Sempre procurei me preparar antes da mudança, e não a partir dela.
Ditar o ritmo. E não dançar conforme a música.
Nem sempre dá. Mas quando se está disposto a aprender passos novos, a chance de acertar a coreografia é bem mais fácil.
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No último mês, fiz um exercício inédito e interessantíssimo.
Enviei um email para todos@nossaempresa.com.br e pedi para que as pessoas que trabalham comigo fizessem críticas construtivas. Para que passassem uma caneta marca texto num defeito meu, numa fraqueza não observada, numa oportunidade de transformação.
Eu sabia (ou, pelo menos, esperava) que, pelo clima familiar da nossa empresa, não faltariam mensagens que me ajudariam a ser alguém melhor.
Dito e feito.
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Esse episódio foi tão enriquecedor que resolvi dividir o que extraí da experiência.
Se você é dessas pessoas que vê oportunidade de aprendizado em tudo, o post será bastante útil.
Inclusive, já vão duas dicas sobre o processo em si.
- Peça uma coisa só. Quando o feedback é amplo (o que você pensa sobre mim?), o leque é de possibilidades e fica grande demais. E isso constrange as pessoas. Agora, se você restringir o universo e pedir com jeitinho (você pode dividir comigo uma coisa — uma única coisa — onde eu possa melhorar?) a tendência é elas se sentirem menos desconfortáveis.
- Peça também um elogio. Se você convida à crítica (mesmo que construtiva), há pessoas que se sentem numa saia justa. Agora, se você pedir que, junto, façam um elogio, a chance de ficarem à vontade é muito maior.
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Com relação aos aprendizados:
- O que é visto como defeito por uns é qualidade para outros. E vice-versa. Foi algo que me surpreendeu, e que provavelmente acontece com todos nós. Inclusive, vale destacar: somos percebidos de formas completamente contraditórias por pessoas muito parecidas.
- A transparência aumenta a conexão. Como em qualquer empresa, há figuras com que convivemos menos — e outras com quem convivemos mais. Toda as críticas que recebi de pessoas com quem não tenho tanta proximidade foram, lá no meu íntimo, um quebra-gelo. Uma oportunidade de aproximação.
- As mudanças de maior impacto são, muitas vezes, as mais simples.Se você presta atenção no que estão dizendo, vai ver que muita coisa é fácil de corrigir. E que esses detalhezinhos farão uma grande diferença na sua relação com os outros. Não há por que não mudar.
- Feedback é como assalto: não reaja. Essa frase (criada pelo Felipe Anghinoni) caiu como uma luva durante o exercício. Tem gente que pede feedback mais com o intuito de se justificar do que para melhorar de fato.
- Se as pessoas pensam algo a seu respeito, não é gratuito. Você deve ter feito algo para que elas a vejam assim. É muito fácil culpar o olhar do outro — em vez de responsabilizar a nós mesmos pela imagem criada.
- Se esse movimento for genuinamente humilde, você não precisaráparecer humilde. Todo mundo já passou por uma situação de falsa modéstia. É uma das nuances (não muito saudáveis, é verdade) da nossa sociedade de aparências. Mas é legal quando a gente consegue deixar essa máscara de lado e aceitar a nossa vulnerabilidade sem receios.
- Você nem precisa pensar na solução. Ela já vem no pacote. Uma das minhas maiores preocupações era: e depois, como vou colocar tudo isso em prática? Como vou montar um plano de ação para cada feedback? Pois, para minha surpresa, boa parte dos e-mails já tinham sugestões do que fazer.
- Não foque na crítica, mesmo que seja grave. Foque na mudança. Se você melhorar, as pessoas vão perceber — e reconhecê-lo por isso. Foi legal ler relatos das pessoas que me conhecem há mais tempo. Gente que reparou em mudanças importantes — e fizeram questão de destacá-las. Ingenuamente, achei que só eu tinha notado aquelas transformações lentas e graduais, que aconteceram ao longo de muitos e muitos meses. Ledo engano. As pessoas percebem, reconhecem e admiram.
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Basicamente era isso. E já como o papo todo é sobre feedback, abro o canal para você também. Se você tiver críticas construtivas, meu e-mail é tiago@perestroika.com.br ou t@aeroli.to. Será legal ouvir outros pontos de vista a respeito de tudo isso.
Beijos, abraços.