— O que mais me marcou ao ler Sapiens — (melhor livro que li em 2017)
Essa obra prima de Yuval Noah Harari deveria ser leitura obrigatória para qualquer vivente. Afinal, é quase inaceitável alguém no mundo de hoje não se interessar em saber um pouco mais sobre a nossa história.
Antes de você começar, é importante saber que objetivo desse texto não é resumir, sintetizar ou dar spoiler sobre o livro. Ao contrário, decidi escrevê-lo com o intuito de estimular a leitura e pontuar algumas coisas que me chamaram atenção.
O livro tem mais de 400 páginas, e na medida em que eu ia lendo ia anotando alguns “aha” moments e no final cheguei em 10 deles:
1- Nosso cérebro já foi maior (e isso era um problema): Isso mesmo, você leu bem. Tínhamos mais massa encefálica, mais centímetros quadrados de atividades neurais e, consequentemente, mais possibilidades. Porém isso, era um problema, porque havia mais peso para carregar e uma maior circunferência. Isso fazia com que andássemos curvados, limitando, assim, muitas das nossas atividades. Além disso, as mulheres sofriam muito durante o trabalho de parto, sendo que muitas delas morriam. Na medida em que fomos evoluindo, a seleção natural foi acontecendo e nosso cérebro diminuiu de tamanho, ficando mais leve. A partir daí, andar com dois apoios tornou-se uma tarefa menos complicada e muita coisa aconteceu.
2- De todos os mamíferos somos os que nascemos “menos” prontos: E esse fato desencadeou a cultura que temos até hoje de CUIDAR. Nosso filhotes recém nascidos precisam de muito mais cuidados do que um bebê elefante ou uma filhote de baleia. Somado a isso criou-se um senso de comunidade e colaboração, afinal, as mães precisavam de ajuda para cuidar dos seus filhos — enquanto os pais estavam caçando — e então chamavam os “vizinhos” ou “parentes” da tribo para que pudessem compartilhar boas práticas, dicas ou para ficar de olho nas crias.
3- É tudo culpa do trigo: Antes dele, nossa alimentação era muito mais balanceada. Tínhamos que comer de tudo, carne, vegetais, frutas, afinal, essa combinação era importante para a nossa sobrevivência e saúde. Porém, quando descobriu-se o trigo (fácil de plantar, fácil de cozinhar, fácil de comer) tudo mudou. Além disso, o trigo sozinho trazia uma sensação de satisfação, energia e nutrientes que substituíram todas as outras comidas que eram mais difíceis e cansativas de se obter.
4- O sucesso medido por números: A partir do momento em que aprendemos a contar e armazenar os dados (escrita), veio o entendimento de que, quanto mais temos algo, mais poderosos somos. Uma vila com maior número de indivíduos era mais poderosa que outra com menos. Um agricultor com mil pés de trigo tinha mais poder de mercado do que o outro com apenas duzentos e isso acabou se tornando uma máxima até hoje. Se pararmos para pensar, o sucesso de um país é definido pelo PIB (Produto Interno Bruto) que significa nada mais nada menos que quantos carros, eletrodomésticos, casas e dinheiro no banco cada indivíduo daquele país possui. Será que é isso mesmo? Que bom que já temos movimentos como FIB (Felicidade Interna Bruta) que nasceu no Butão e mede outras questões para definir em que nível o país está realmente. (isso é tão interessante que daria um outro texto).
5- Luxos tendem a se tornar necessidade: A busca constante por facilidades nos tornou reféns de nós mesmos. Já imaginou sua vida hoje, sem energia elétrica? Sem filtro de água? Sem internet? Pois é, para não ir muito longe, nossos avós viveram maravilhosamente bem sem muitos “luxos” que foram desenvolvidos ao longo das suas vidas, mas que hoje tornaram-se necessidades inclusive para eles.
6- Nossa noção de futuro é fruto da agricultura: Desde o advento da agricultura as preocupações com a próxima safra, com o clima do dia seguinte, temporada de chuvas e outras previsões futuras se transformaram atores importantes e passaram a definir um outro modo de ver o mundo. Começamos a nos preocupar sobre o que poderia acontecer amanhã.
7- Sexo é biológico, gênero é cultural: Simples assim.
8- Desejo envolve insatisfação: Não importa o que a mente experimente, ela sempre vai reagir com desejo.
Quem nunca passou por isso:
“Chegar em uma praia paradisíaca porém com o tempo nublado”
Ao invés de celebrarmos a oportunidade de estar lá, desejamos que as nuvens se dispersem e o sol apareça. E vice e versa. Quando vivenciamos algo agradável, desejamos que dure mais tempo ou se intensifique.
Ou seja, nunca estamos satisfeitos. Dificilmente aceitamos o AGORA e vivenciamos aquilo que está disponível para nós naquele momento. Ou seja, o fato de sofrermos com algo é causado única e exclusivamente por padrões de comportamento da nossa própria mente.
9- A força dos mapas vazios: O que fez a Europa, continente tão inexpressivo se tornar uma potência mundial? É simples, os seus navegadores e descobridores admitiram NÃO SABER. Olharam para os mapas vazios e disseram: “Eu não sei o que existe lá”.
Até então, todos os outros projetos imperialistas partiam do pressuposto de que já conheciam tudo sobre tudo e que só os interessava disseminar a sua visão de mundo. Buscavam terras, poder e riquezas, enquanto os europeus buscavam novos territórios, porém, também estava interessados em adquirir novos conhecimentos. A prova disso foi que logo depois que Colombo “descobriu” a América, praticamente, todas as expedições militares importantes que partiam da Europa levavam a bordo cientistas/pesquisadores. Foi, inclusive, numa dessas embarcações que um jovem geólogo, de 22 anos, foi convidado para mapear a América do Sul e os dados coletados por ele deram origem a teoria da evolução. Esse jovem era Charles Darwin.
10- Ao olhar para trás, o inevitável deixa de ser óbvio: É fácil tirar conclusões a respeito de algo depois de pronto. Uma forma carinhosa de chamar isso é o famoso “engenheiro de obra pronta”. Aquele cara que vem depois do prédio estar de pé e começa a avaliar, colocar defeitos ou tirar conclusões. Agora, o mais curioso é que ler esse livro faz com que tenhamos uma visão analítica sobre o motivo pelo qual tudo é como é e como foi complicado chegar até aqui. Se é complexo entender isso a partir da ótica de “engenheiro de obra pronta”, imagina viver tudo isso enquanto acontece. Por isso, que, quando falamos que “o mundo mudou” parece óbvio, porém entender as mudanças enquanto elas acontecem é um desafio e tanto.
*Sei que muitas pessoas leram Sapiens e tiraram diversos aprendizados diferentes dos meus, portanto, a ideia desse texto é torná-lo colaborativo.
* Se você leu o livro e quer compartilhar seus aprendizados (ou algo que mais lhe chamou atenção), escreva aqui nos comentários os seus pontos que vou acrescentando no texto de tempos em tempos :)
CONTRIBUIÇÕES DOS LEITORES
ANDERSON FERRARI
“Um dos assuntos que mais me fez refletir nesse livro foi sobre o dinheiro, fiquei uma semana pensando nisso aqui:
“O dinheiro é mais aberto do que qualquer língua, lei estatal, código cultural, crença religiosa ou hábito social. O dinheiro é o único sistema de confiança, criado pelos humanos, capaz de ultrapassar qualquer fosso cultural e não discrimina com base na religião, no género, na raça, na idade ou na orientação sexual. Graças ao dinheiro, até as pessoas que não se conhecem e que não confiam umas nas outras conseguem cooperar de forma eficaz.”
Até agora não consegui decidir se o dinheiro foi muito bom ou muito ruim pra sociedade. ¯\_(ツ)_/¯”
FELIPE GUEDES FLOCO
A questão base do livro é a que ainda anda me assombrando. A nossa imaginação. Pro bem ou pro mal é o acordo, construção cultural que nos une ou nos separa. “Tudo o que é sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade sua posição social e suas relações recíprocas.”
DEBORA PAIVA LOBO
Sapiens foi um livro libertador, daqueles que voltarei a consultar pela minha vida, e a cada nova leitura, a cada período acredito que terei novas visões do futuro com alguns e outros trechos escritos pelo Harari. Alguns capítulos nos perturbam, mas outros nos libertam.
“Cada ponto da história é um cruzamento. Uma única estrada percorrida leva do passado ao presente, mas uma série de caminhos se bifurca em direção ao futuro.”
Nós somos seres inventivos e fazemos de tudo para sobreviver, somos todos “storytellers”, somos os Deuses poderosos do século XXI. A explicação de muitos problemas que nos tiram o sono e estão presentes no mundo, nos nossos países e cidades, são abordados no livro e a maioria motivados pela nosso desejo de mais poder, mais riqueza, mais experiências, mais luxo, etc. Sapiens nos dá uma luz e um caminho com insights geniais.
“mesmo que, por um esforço sobre-humano, eu consiga livrar meus desejos pessoais das garras da ordem imaginada, sou só uma pessoa.”
A maioria das coisas está impregnada na mente humana, já está no inconsciente coletivo, e como ele mesmo diz, para mudar a ordem imaginada é preciso que convençamos milhões de estranhos a cooperarem. Isso faz muito sentido quando Harari fala sobre as religiões e os
profetas que foram capazes de convencer milhões a se converterem ou sobre a criação de Impérios poderosíssimos como o Império Romano.
“Muitas das forças mais importantes da história são intersubjetivas: leis, dinheiro, deuses, nações.”
Acredito que a grande sacada do livro não é só a história da nossa evolução, mas sim o intuito de nos conectar com o passado para fazermos melhores escolhas no futuro. Yuval diversas vezes explica sobre o passado, lembra sobre o presente e reflete sobre o futuro. Perceptivo, ele dá um empurrão sobre como será o futuro. Estamos caminhando para um futuro de algoritmos, de Big Data, onde nós sofreremos com uma discriminação e uma desigualdade como ele mesmo diz: “Individual” e não mais coletiva como a discriminação por raça, gênero ou cor. Os questionamentos surgiram ao longo de todo o livro, a lucidez de Harari nos dá um norte e aponta para qual direção o mundo caminhará. A revolução tecnológica e as techno religiões já estão aí e serão o nosso futuro, as “cryptocurrencies” o nosso dinheiro e a reflexão em cima dessa obra para mim foi sobre todas as ferramentas que nós e nossas futuras gerações terão disponíveis e sobre como colaboraremos com a sociedade para uma educação melhor, como as utilizaremos? A Singularity University aborda o crescimento exponencial de empresas com a ajuda da tecnologia mas sempre aborda a questão sustentabilidade, democratização, desmonetização e resolução de problemas. Nossa evolução deve seguir esse caminho, onde pudermos disseminar o pensamento da colaboração, teremos pessoas e empresas melhores e mais saudáveis. O livro Sapiens nos faz refletir como resolveremos, como diminuiremos a fome, como diminuiremos o sofrimento no mundo, como ajudaremos o nosso ecossistema e criaremos maneiras mais sustentáveis e naturais de se alimentar, de se locomover, de morar ou construir?
Enfim, essas foram a minhas reflexões com o livro Sapiens.
Obrigada!
Espero que tenham gostado.
Beijos, fui!
Jean Philippe Rosier — Empreendedor, professor e palestrante. Sócio da Perestroika (escola livre de atividades criativas). Apaixonado pela vida e por FAZER coisas :)