O FIM DO FAUSTÃO

Perestroika
3 min readJun 21, 2017

--

Em 2015 assisti a uma aula muito interessante na Perestroika de Porto Alegre, no curso Empreendedorismo Criativo. O professor, Vinicius Machado, dissertou sobre muitas mudanças pelas quais o mundo vinha e vem passando. Dentro desse contexto, mostrou um slide que era pra ser apenas uma curiosidade, mas que me intrigou um pouco: há um estudo prevendo que 75% das 500 maiores empresas do mundo em 2020 ainda não existem (hoje esse percentual estimado deve ser um pouco menor, mas ainda impressionante).

Vini ainda deu um exemplo: o Uber acabara de superar a Petrobrás no seu valor estimado. Um bilhão a mais. Milhares de funcionários a menos. Naquele momento, só 5 anos de vida. Nenhum navio, nenhuma grande tecnologia. Nem tinha Uber em Porto Alegre ainda quando isso aconteceu. O fato é: empresas mais fluídas estão ganhando espaço nesse novo mundo que vem se desenhando.

Isso me fez pensar numa realidade que percebo há tempos: acabou a Era dos Titãs. Hoje, todo mundo no Brasil conhece o Faustão e a Volkswagen. TODO MUNDO MESMO, não é força de expressão. Não que eles sejam ruins, pelo contrário, têm seus (muitos) méritos, mas acho que ganharam esse tamanho todo também porque “era o que tinha”. As opções de entretenimento há 20 anos não iam muito além do Domingão. Bem como as opções de automóveis não eram das mais variadas noutros tempos.

Na aula, Vini explicou que “a lógica” desse slide se devia muito ao surgimento dessas novas empresas “gasosas”, com novos conceitos e métodos; mas também ao reduzido poder de manobra das atuais gigantes do mercado, que vão se deparar com novos cenários e não conseguirão se adaptar a tempo. É como se estivéssemos vendo transatlânticos e lanchas num oceano em que icebergs diferentes aparecem a todo momento: os menores conseguem desviar o rumo com maior facilidade.

Acredito, portanto, que dentro dessas 500 maiores empresas de 2020 figurem muitas “desconhecidas” para o grande público. Empresas que serão líderes em seus segmentos, mas que não necessariamente serão familiares para todo mundo. Provavelmente a Petrobrás é muito mais conhecida que o Uber entre os brasileiros, apesar dos números supracitados. Acho que cada vez menos teremos grandes Nikes, GMs e afins reinando soberanas no Planeta Terra.

É a vez do mundo pulverizado. Acabou o Faustão. Crianças hoje não assistem mais televisão. Umas estão nos games, outras no YouTube, outras no Netflix. Em breve as novas gerações não saberão quem é Fausto Silva. Dificilmente a Rede Globo emplacará um novo astro conhecido por TODOS. Antigamente, Paralamas do Sucesso e Chitãozinho e Xororó iam no Faustão e todo mundo conhecia Paralamas do Sucesso e Chitãozinho e Xororó. Hoje, certamente eu não conheço algumas das bandas favoritas dos meus próprios amigos. É o mundo das opções infinitas. Das pessoas vivendo em seus micro-mundos. Da construção de micro-ídolos.

Você conhecia Cristiano Araújo? Talvez não. Era um dos maiores sucessos do nosso país. Li essa matéria sobre ele poucos dias antes dessa aula do EC. E acredito que as duas coisas conversam muito entre si. Cada um de nós será consumidor de artistas e marcas cada vez mais específicos. Os poucos grandes titãs estão com os dias contados. Um exército de pequenos e médios-titãs já marcha em ritmo acelerado rumo ao topo de nossas vidas.

Lucas Von,
Diretor de Whatever.

[DNA Perestroika]

--

--

Perestroika
Perestroika

Written by Perestroika

Escola de atividades criativas.

No responses yet