Migos brancos, vamos falar sobre racismo?

Perestroika
4 min readJul 27, 2018

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Sei muito bem que eu nunca na vida vou chegar perto de saber o que é sofrer racismo. Do auge do meu privilégio branco, eu não tenho lugar de fala para vir me palestrar sobre o assunto nesta perspectiva, mas gostaria de propor aqui alguns pontos de como nós, brancos, podemos refletir um pouco mais sobre isso. Além disso, gostaria de deixar um espaço na vida das pessoas negras para que elas possam falar sobre neurociência ou qualquer assunto que elas queriam, sem terem que nos explicar coisas que já deveríamos ter entendido sozinhos e há muito tempo. Eu imagino que você lendo esse texto deve estar pensando: “Mas eu? Eu não sou racista. Eu respeito os negros, eu não faço distinção de cor de pele.” Vou ter que te dizer, migo: você é racista, sim. Nós, brancos, somos racistas. Sabe por quê? Porque todos os dias estamos usufruindo de um sistema que nos beneficia pela cor da nossa pele. “Mas como assim? Eu estou vivendo minha vida normal? Eu que trabalho e me esforço? Não tenho nada de benefícios, não”.

Pega minha mão e vamos pensar juntos: você acorda, pega seu transporte, vai para o trabalho. Exerce suas funções, procrastina, faz umas reuniões, almoça e trabalha mais um pouco. Seu dia é difícil, você se estressa com várias coisas. Aí, você pega aquele trânsito foda e volta para casa. Chega cansado e ainda tem que fazer faxina, cozinhar ou qualquer compromisso. Só sobra um tempinho e vai dormir.

Olha esse dia, o que tem de benefício nisso? Você não sofreu nenhuma violência ou agressão pela cor da sua pele em todo esse rolê. Simples assim. Só de isso não acontecer, você já é privilegiado. As pessoas negras sofrem opressões o tempo todo que nós nunca vamos saber como é.

Se você trabalha em alguma empresa ou escritório, dá uma olhada para o lado. Quantos colegas negros você tem? Eu aposto que é bem menos que a metade da galera. Em um país no qual um pouco mais de 50% da população é negra, não parece um pouco lógico que pelo menos 50% da população do seu trampo deveria ser negra? Sabe quando você uma característica que não gosta e, quanto mais você fica negando, mais acaba te consumindo? É tipo alguém te dizer que você é infantil. E você responde: “Mas eu fiz aquela coisa tão madura ontem, como posso ser infantil?”. Se você acaba admitindo e aceitando que pode ser infantil, você começa a aprender a lidar com aquilo. E é o primeiro passo para começar a mudar e ser melhor.

Com o racismo é igual. Admitir que esse sistema todo beneficia você e que você é racista, é um ponto crucial para a mudança.

E sabe quando a gente usa a desculpa: “Eu não sou racista, o problema é a sociedade que é racista.” Mas a sociedade não é composta por cada um dos seres que fazem parte dela? Essa desculpa é tão tosca quanto dizer que não adianta parar de jogar lixo no chão porque as pessoas continuam jogando. Sim, isso é sua responsabilidade também, meu anjo.

“Mônica, o que eu posso fazer?” Não tenho presunção de ter respostas certas. Tenho consciência que ainda to bem longe de estar fazendo o que poderia, entretanto nós, brancos, precisamos ter um papel ativo no combate ao racismo. Leia, procure conteúdos (abaixo vou deixar uma lista de blogs) sobre o assunto, procure vídeos e textos. Tem sempre algo novo para aprender. Assim, quando uma pessoa branca perto de você cometer um ato de racismo, você não precisa esperar uma pessoa negra falar sobre. Você pode indicar e desconstruir isso. O mais importante ainda é mexer nas estruturas do sistema: políticas afirmativas de cotas nas universidades, eleger pessoas negras para cargos públicos, trabalhar ativamente para que o RH da sua empresa contrate mais pessoas negras etc. Não dá mais para a gente ficar só sentado olhando. A gente precisa combater juntos.

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Escola de atividades criativas.

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