Esse não é um texto sobre o tempo
O tempo perguntou pro tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem. Ia começar um textão-conceitual-fenomenológico-relativístico sobre o que é o Tempo, mas quem tem tempo pra isso, não é mesmo? (Ainda volto com o texto original) Posse de tempo já é por si só um negócio louco de se pensar, mas a gente vive nessa lógica. A. Vida. É. Não. Ter. Tempo. E, por isso, o assunto do texto mudou pra um alerta de presente e de futuro. As instâncias de tempo que conseguimos influenciar. (Não, não é possível voltar no tempo.)
É ano de eleição e eu adoro ficar ouvindo demagogia, discurso raso e burrice. Só não tenho tempo pra canalhice. Nesse sentido algumas questões me soam mais preocupantes:
1 — A gente ainda escuta perguntas pra quem está se candidatando sobre como diminuir a taxa de 13% de desemprego no Brasil.
Amigs, a estimativa conservadora é de 20% de desemprego nas próximas décadas. Não dá pra acreditar e comprar programa de governo que fala em geração de emprego pro próximo ciclo de 4 anos com expectativa de baixar essa taxa. Ela. Não. Vai. Cair.
Talvez caia nesse próximo ciclo, com alguma medida tapa buraco, mas precisamos pensar em 10, 20, 30 anos. Como preparar o país para isso?
Se tá difícil escolher presidente agora, imagina quando esses números dispararem e o pessoal continuar falando nas mesmas práticas macroeconômicas e buscando um nível de pleno emprego escandinavo do fim do século XX. Ou será que nem a 4a Revolução Industrial a gente vai surfar, vai continuar sem adotar tecnologia na indústria e nos trabalhos e não vai ter esses problemas que o mundo todo vai enfrentar?
2 — O combate à corrupção é assunto fácil. Todos dizem que vão dar apoio às investigações e que responsáveis devem ser punidos.
Até aí fácil falar. Mas e pro futuro?
E implementação de Blockchain e rastreabilidade nas contas dos governos e das candidaturas? E mudança na lógica partidária, eleitoral e de financiamento, quem está propondo de verdade?
Faz sentido termos um sistema que dá mais tempo e dinheiro (fundo partidário e cotas de TV) pra quem já está no poder se o que queremos mesmo é mudança?
A televisão no Brasil é concessão pública, qual a dificuldade de estabelecer tempo e condições iguais para todos os participantes do pleito? Nem nisso a gente consegue combater a desigualdade.
3 — Quando falam de assuntos minoritários. Leia-se: matriz energética, meio ambiente, indígenas, negritude, mulheres, LGBTQA+.
A primeira dica é: ESSES. ASSUNTOS. E. PESSOAS. NÃO. SÃO. MINORITÁRIAS.
Estamos falando da maioria da população brasileira e qualquer mudança real no país precisa passar por dar autonomia, respeitar a voz e o protagonismo desses grupos. Chato dizer para você companheiro de homice e branquice, mas se quisermos um país e mundo melhor precisamos sair dos holofotes. Precisamos ouvir os Brasis que existem e somar as vozes, precisamos querer construir algo que seja para todo mundo. Ou pra maioria da população pelo menos.
Os detalhes sobre cada um desses temas ficam para outros textos, mas o que queria dizer é que não existe no Brasil uma pessoa ou partido que entenda o futuro como um tempo que já é, como uma parte verdadeira da nossas vidas, do país e do planeta no sentido ambiental. Não consigo ver programas de governo com propostas estruturadas e sérias nessas áreas e nem organizações sociais que apresentem soluções detalhadas. Temos alguns discursos nessa linha, é verdade, mas ainda sem embasamento, sem pragmatismo e, principalmente, sem chance real de vitória eleitoral e não sou capaz de dar meu voto a alguém sem compromisso com essa agenda.