CULTURA E COMUNICAÇÃO, uma parceria necessária

Perestroika
4 min readJul 20, 2017

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Coletividade, colaboração e compartilhamento são as características da nova era. E a expansão desses três pilares por meio da tecnologia e plataformas digitais vem transformando a sociedade e tornando ideias e experiências mais importantes que produtos.

Marcas passam a se entender como plataformas catalisadoras de transformação e a buscar propósito e significado. A jornada de decisão do consumidor passa por transformações profundas. Ao entender este novo momento da relação com seus públicos, as marcas buscam novas formas de se relacionar além da comunicação convencional como novos aliados na missão de se conectar aos seus consumidores. A economia está em transição: acaba a era da posse e começa a era do acesso e da experiência.

Em tempos de mudança de era, a economia criativa passa a ser peça chave para o desenvolvimento socioeconômico do planeta. Desde que o mundo é mundo e nele a roda gira, a cena cultural produz experiências únicas que geram empatia, senso de comunidade e engajamento. Os negócios na área da cultura e produções culturais produzem riqueza para o país, incluem e também reúnem ao seu redor a comunidade em espaços públicos, além de ser espaço aberto para instituições e marcas que queiram dialogar.

A crise que vivemos não é somente financeira, mas de valores. E, nesse momento, o mercado desperta interesse em se conectar a essas comunidades por meio de projetos culturais ao redor de suas marcas. Ainda assim, muitos produtores culturais independentes que dedicam toda a sua vida à essa atividade no nosso Brasil se veem sozinhos nesse momento, e com dificuldades de estabelecer parcerias dentro dessa nova lógica que possam ir além do cemitério de logotipos que assina qualquer peça cultural. A pergunta que ecoa é: onde estão as marcas realmente interessadas em sobreviver à mudança de era?

Para os gestores de uma marca é fácil dizer que estão fomentando a cultura independente, apesar de poucos fazerem projetos que realmente dialoguem com a rede de produtores independentes do país. E a palavra que vale reforçar aqui é: diálogo. Antes que você dê um pulo e diga que “mas a marca x tem curadoria do fulano e a casa de shows y sempre divulga o sicrano”, eu — paraense, filha de artista da cena musical e produtora cultural — gostaria lembrar que o Brasil de verdade é muito maior que os bairros hipster de São Paulo. O Brasil não é a Vila Madalena.

Diante das novas demandas do mercado mundial, um dos principais desafios é encontrar os parceiros certos. De um lado produtores culturais que entendem marca e público como partes de um mesmo ecossistema e do outro marcas abertas a atuar como protagonistas, enfrentando novos desafios e investindo em formatos mais transparentes nessa relação.

Esse é justamente meu ponto. Acredito que, com essas três forças — co-criação, busca pela melhor exposição da mensagem ao público e intercâmbio de linguagens e aprendizados entre marketing e cultura — os negócios entre produtores culturais e marcas podem deixar como legado uma cena cultural mais madura e mais consciente do seu valor artístico e simbólico dentro dessa nova era. E, como diz André Carvalhal, você pode encarar essa Mudança de Era como a Era de Aquário dos Astrólogos, como o Capitalismo Consciente dos economistas ou como a crise dos varejistas. O que importa é entender que, independente da lente, precisamos de transformações urgentes dentro e fora do atual modelo vigente.

Já vemos empresas tomando posturas mais generosas e fomentando novas linguagens. A VICE é um veículo que já está de olho nisso há muito tempo e tem cumprindo um papel de exposição e distribuição da produção do que é único e visceral no Brasil e no mundo. Marcas como a Red Bull e Spotify estão atuando como plataformas parceiras da produção cultural independente em uma relação horizontal e generosa, onde a lógica do mecenato é retirada e entra a lógica da colaboração.

E muitas outras já estão se engajando. Hoje os produtores estão se organizando em redes e buscando parcerias que façam sentido ao seu contexto, assim como vemos marcas fomentando embaixadores locais dentro da cena cultural independente, abraçando os micro-influenciadores e levando a conversa para outras esferas além das grandes celebridades.

Esse texto não tem a pretensão de apontar dedos, mas sim ampliar o nosso olhar para as conexões óbvias entre dois mercados movidos por energia criativa e que podem se potencializar. Você, produtor cultural, pode ter parcerias com marcas que saibam realmente valorizar å forma como você se expressa e traduz seu trabalho em cultura e arte. E, da mesma maneira, você que gerencia uma marca também pode olhar com mais atenção o potencial de relacionamento e retorno dessa enorme cadeia produtiva.

No espírito do nosso tempo, é sim possível um diálogo ganha-ganha entre marcas e a cena cultural. Essas mudanças nas relações mercadológicas são consequência de um processo de despertar de consciência das pessoas por trás dos projetos culturais. E das pessoas por trás das marcas. Porque, no fim do dia, cultura e comunicação são duas pontas de uma relação composta por partes que não são assim tão diferentes. Uma relação composta por pessoas. Mais do que na hora desse novo diálogo começar, não é mesmo?

Sarah Brito,

Gestora cultural, pesquisadora

e Diretora de Whatever.

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Escola de atividades criativas.

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