Como Procurar o que Ainda não Existe
— a Pesquisa de Tendências nunca foi tão necessária, seja para entender melhor as mudanças do mundo ou ao menos aliviar a angústia diária por atualização.
“O dia de hoje representa o ritmo mais lento de mudanças que você vai experimentar pelo resto da vida.”
A primeira vez que ouvimos a icônica frase de Jonathan Macdonald foi através de Michel Zappa, fundador da Envisioning, em uma palestra que poderia ser sobre ‘o futuro do futurismo’. A partir dali, tudo mudou, e as cinzas dos dias tornaram-se as cinzas dos minutos.
A única certeza hoje é que tudo ficará cada vez mais rápido. Nesse contexto, entender melhor as mudanças para acelerar as transformações tornou-se mais do que um alívio e um descanso contra a velocidade do tempo. É uma questão de sobrevivência. Mas como prever o futuro diante de um presente tão confuso e oscilante?
Todo mundo sabe de tudo, mas ninguém sabe o que fazer.
Expectativa: eficiência máxima — seu smartphone permite que você trabalhe de casa, evite deslocamentos e ainda leia um livro no final do dia. Realidade: você passa o dia afundando em emails, likes e notificações, a tríade infernal que torna o ato de ler um livro um sonho cada vez mais distante.
Por um lado, as novas tecnologias são gloriosas porque nos oferecerem mais tempo para podermos fazer outras coisas. Por outro, aumenta também a sensação de que estamos perdendo o nosso tempo. O paradoxo é que estamos sempre perdendo cada vez mais tempo.
Você pode não ter tempo, mas você sabe de tudo. A contrapartida da aceleração é saber cada vez mais. E encontrar boas referências nunca pareceu tão fácil. Listas de “melhores restaurantes/destinos/apps”, newsletters com as melhores dicas, aquele influenciador incrível que sempre exibe os melhores looks. Sem falar no democratizador oficial da pesquisa, o Google.
Em 2018, todo mundo já é coolhunter, ou seja, alguém teoricamente capaz de identificar sinais do que hoje é mais descolado ou inovador. Curiosamente, saber o que é legal e o que não é parece gerar mais dúvidas do que soluções: Isso realmente vai pegar? Já pegou? É uma tendência ou um fad? Devo comprar? Devo investir?
O primeiro passo para responder tais questionamentos é desapegar das referências em si e tentar entender os movimentos que estão por trás. Não é a gota do oceano, é a onda que nos interessa.
Transcendendo o Cool
Durante algumas horas, todo mundo está fixado no mesmo meme no Facebook, mas qual a real tendência que esse comportamento está apontando? Ir além do coolhunting é entender que o que pode ser cool para um grupo de pessoas pode ser last season ou mesmo irrelevante para outro. É transcender o achismo dos falsos gurus e dos formadores de opinião. É aceitar que nem tudo que é legal ou interessante é necessariamente uma tendência. É entender que as razões para a incidência de um comportamento são tão importantes quanto o movimento em si.
Pesquisar tendências é sobre contextualizar, entender e interpretar os sinais de futuro que já se encontram ao nosso redor. Afinal, o futuro ainda não chegou ou ele simplesmente não existe? A chave dessa disciplina é aprender sobre processos e métodos estruturados de pesquisa, no lugar de apenas confiar na intuição para determinar o que é tendência e o que não é.
Mas então existe um Método?
Seja pelas óticas da pesquisa de tendências, do coolhunting ou mesmo do futurismo, antecipar o amanhã tornou-se mais acessível nos últimos anos. Ainda assim, muitas dúvidas pairam no ar: Uma tendência pode voltar? Uma tendência pode flopar? Como se identifica uma tendência? O que fazer com uma tendência?
Estes questionamentos ressaltam uma discussão que ainda é imatura e pouco profunda, especialmente no Brasil. Nos últimos anos, o assunto se propagou na cultura de massa e no mercado de forma vertiginosa, porém sem muita discussão sobre as diferentes abordagens e metodologias. Existe um método? Existem vários.
Hardcore desk research. Redes de disseminação. Recusar o ordinário. Suspender os preconceitos. Superar o medo do diferente. Dizer sim para tudo. Dizer não para tudo. Equilibrar deslumbre e senso crítico. Alimentar a curiosidade para enxergar o que está por trás da próxima porta. Tudo isso faz parte de uma rotina intermitente de pesquisa, análise, edição e formatação.
Desde 2015, float e Perestroika elevam a disciplina para além do achismo e da pesquisa de mercado, expandindo o campo de atuação entre pesquisadores, times de marketing, áreas de inovação, equipes criativas, comunicadores e futuros empreendedores. Pesquisar tendências pode ser o jeito mais inspirador e original de lançar novos produtos e serviços, posicionar marcas, repensar estratégias de comunicação, atualizar linguagens e antecipar comportamentos.
O poeta francês Paul Valéry escreveu que entramos no futuro de costas, uma imagem muito emblemática — e angustiante — para os tempos atuais. Viver na incerteza e na urgência do agora pode ser um fardo, mas pesquisar tendências e vislumbrar novas imagens de futuro é uma forma de revelar os possíveis caminhos. Afinal, ainda que entremos no futuro de costas, ao menos sabemos para onde estamos indo.
por André Alves & Lucas Liedke