Ainda há tempo

Perestroika
3 min readOct 11, 2018

--

Segunda-feira passada, foi um dia de sol em Porto Alegre. Dia daqueles bonitos mesmo. Céu azul, sol forte. Um dia de verão. Só que algo me incomodava. Sentia um cansaço descomunal. Era como se o dia estivesse nublado. Como se uma névoa cinza, pesada e tóxica pairasse pelo ar. Cada fibra do meu corpo estava tensa e o meu peito estava pesado.

Tentei trabalhar, fazer o que precisava ser feito. Só conseguia me concentrar por, no máximo, 20 minutos. Depois, já me pegava divagando sobre o futuro, sobre como seria a minha vida, a vida das pessoas que gosto e quero bem, mas que são odiadas por essa avalanche ultra-conservadora que tomou conta do Brasil. Temi por mim, temi pelos meus. Temo pela minha existência que poderá ser ainda mais arrasada e ignorada. Temo pelos retrocessos sociais, econômicos e de liberdade de expressão.

Assim como todos, quero um país mais justo, com igualdade, sem pessoas passando fome e livre da corrupção. Quero ir para as ruas, quero protestar para que essas mudanças aconteçam. Mas para estar nas ruas lutando por melhorias, eu preciso estar viva. E o candidato que teve o maior número de votos no primeiro turno das eleições presidenciais é violento contra pessoas como eu. Ele é violento com mulheres, violento com negros. Ele semeia o ódio contra pessoas LGBTS, contra os pobres e indígenas.

Ele não foi eleito, mas o tipo de discurso validado por esse candidato fez com que uma das grandes figuras do movimento negro, o Mestre Moa do Catendê, de 63 anos, fosse assassinado com 12 facadas por um apoiador daquele candidato do PSL. Uma mulher que estava usando uma camiseta com os dizeres #EleNão foi agredida a socos por três homens, depois ela foi agarrada por dois deles enquanto o outro riscou com um canivete uma suástica nazista no corpo da vítima.

Pode ser que nenhum dos dois candidatos seja o teu preferido, que você se sinta meio perdidx e não representadx, mas acredito que você queira viver em um país melhor para você, filhos, netos, amigos e companheiros. Para isso, é preciso ter liberdade e autonomia para crítica ao que nos é imposto. O Brasil precisa de mudanças profundas e estruturais, mas não vai ser o ódio, a austeridade e os discursos de intolerância que vão nos tirar desse lugar. Essa tríade vai nos fazer afundar ainda mais nessa crise política, econômica e social, vai potencializar o ódio contra mulheres (que podem ser sua namorada, mãe, esposa, neta ou amiga), vai acentuar a pobreza e disseminar o racismo.

Nesse momento, precisamos ser resistência, precisamos ter um pingo de humanidade e entender que esse projeto de governo que pode entrar em curso é sombrio e é uma ameaça a vida de milhões de pessoas. A gente pode mudar esse cenário, a gente pode optar pela democracia. A gente pode conversar e tentar fazer mais e mais pessoas entenderem que o que está em curso é tóxico, maléfico e que privilegia apenas o topo da nossa pirâmide social enquanto a base continuará sendo esmagada. Podemos reverter essa situação. Ainda há tempo.

  • Subversiva, criativa, sensível e do bem! Essa é a Perestroika

--

--